sexta-feira, 1 de julho de 2011

P. Sherman, 2806, Wallaby Way

     Lembra quando a gente aprendeu na escola que faz muito frio no deserto à noite? Não é mentira. E às 5h da manhã, ainda é noite. Quando eu saí da barraca PUTA QUE PARIU! Estava FUCKING FREEZING!!!! Tomei café da manhã (pão com nutella huuummmm *_____*) e a gente foi de ônibus pro Uluru para assistir o sunrise. No caminho, a Shannon colocou umas músicas australainas engraçadas para tocar, com letras do tipo “Come to Australia and you might accidentaly get killed!” e “Dou-di-dou-di-dou-dou-dou on the back of a kangoroo!”
     Depois de assistirmos o nascer do sol – que foi maomeno (mesmo problema do pôr do sol porque dessa vez a gente assistiu do outro lado ¬¬) – a gente fez a caminhada pelo Uluru. Dá para entender porque os aborígenes o consideram sagrado. É tão enorme, tão gigante... Dá pra sentir o poder que ele exala. E dá para entender porque eles pedem para a gente não escalar – apesar de existir a opção e de eu ter ficado tentada a fazê-la até descobrir que 36 pessoas morreram escalando e que os aborígenes se consideram responsáveis por cada uma dessas mortes e pela contaminação daquele espaço sagrado se autopunem batendo a cabeça em pedras e cortando os punhos –, seria como escalar uma igreja. Tirei 8231640613287538165874682 fotos e, só quando a gente chegou no water hole e a Ola (uma australiana que estava no tour) falou “It's so peaceful”, eu percebi que não tinha percebido que era peaceful porque não estava olhando e sentindo o lugar porque estava muito ocupada tirando fotos, que no fim das contas vão parecer todas iguais, vão parecer só... pedras. Conversei com ela sobre isso no caminho de volta pro ônibus e ela disse que a melhor coisa que aconteceu com ela foi perder a máquina fotográfica na viagem que ela fez pra Europa. No lugar de comprar outra e freneticamente postar no facebook tudo que acontece com ela, ela aproveitou os lugares, olhou de verdade para cada um deles. Eu acho que eu tiro tantas fotos e escrevo um diário há 12 anos porque tenho medo de esquecer as coisas e faço isso para tentar eternizá-las. E se eu simplesmente aproveitá-las enquanto elas acontecem sem a ansiedade de registrá-las e deixar pro meu cérebro o trabalho de selecionar o que merece ser lembrado ou não? Só não abandono esse blog neste exato momento porque sei que vocês querem saber o que está acontecendo comigo, mas acho que a dinastia de diários de Marina Moretti chegou ao fim. Pelo menos por enquanto...
     Depois da caminhada, nós fomos para o centro cultural, onde tinha um museu com histórias e arte aborígenes e um livro de cartas de pessoas pedindo desculpa por terem levado pedacinhos de pedras no Uluru para casa ou tirado fotos nas áreas proibidas (algumas partes são sagradas e não podem ser fotografadas), dizendo que tudo começou a dar errado na vida delas depois disso. No caminho para o camping, eu comecei a rever minhas fotos na máquina e percebi que no fundo de uma delas tinha uma placa de DO NOT TAKE PICTURES IN THIS AREA. Deletei na hora.
     O almoço hoje foi hamburguer e uma das coreanas falou que eu pareço a Hermione *__* Levantamos acampamento e pegamos a estrada para um outro camping, perto do Kings Canion. Demorou 5 horas pra chegar lá. Paramos algumas vezes para ir no banheiro e se alongar e uma para catar lenha pra fogueira! Como diria o Marcelo, MUITO TR00!
     Chegamos no novo camping no fim da tarde e jantamos na companhia de ratos que estavam andando para lá e para cá ao nosso redor. Depois da janta, sentamos todos em volta da fogueira e comemos marshmallows espetados em galhos, que a gente catou do chão – o mesmo chão onde nós e os ratos pisamos – e ficamos contando piadas. Eu não contei nenhuma, mas ouvi várias de alemães zoando franceses e franceses zoando belgas. Conversei bastante com a Fiona e ela é legal =D
     Agora acabaram as piadas e estão todos indo dormir. Hoje não tem barraca. Vamos dormir dentro de sacos de dormir, dentro de um negócio que eu nunca lembro o nome (é tipo um saco de dormir mais grosso e com um colchãozinho nas costas), em volta da fogueira. E, quer saber? NÃO TOMEI BANHO MESMO. Tá frio demais pra isso! E tenho certeza que os ratos não vão ligar. Aliás, espero que nenhum deles entre dentro do meu saco de dormir durante a noite, nem as cobras do deserto. Estupidamente, eu não estou com medo dos dingoes (cachorros selvagens), só porque eles são peludinhos e fofinhos e parecem cachorros. Mas, considerando que eu devia estar, espero que nenhum deles venha lamber minha cara.
     Beijos de uma menina que vai dormir vendo a via láctea
     L
     PS: Acabei de ver duas estrelas cadentes.

Um comentário:

  1. Nossa, meu que legal. Tudo isso.

    E agora parei pra pensar nesse negócio das fotos e dos diários.

    PS: Gostaria de não ter visto as fotos no facebook antes de ler isso aqui. :(

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