terça-feira, 12 de julho de 2011

M. Moretti, 122, Sete Praias

     SOBREVIVI. Sobrevivi a 10h sentada do lado de um velho que ronca. Sobrevivi assistindo só um filme a viagem inteira. Aliás, não só sobrevivi a 10h, mas a 23h30 com a bunda sentada na cadeira em um só dia. Ou melhor, sobrevivi aos meus seis meses sozinha na Austrália. E agora, senhoras e senhores, Marina está de volta. De volta ao país do futebol. Ao país do Toddy e do requeijão. Ao país onde os carros andam do lado direito.
     “Quando eu voltar...” foi uma das frases que eu mais falei nos últimos seis meses. E sempre parecia tão distante. Não consigo acreditar que volTEI. Não consigo acreditar que estou prestes a descer desse avião e rever as pessoas que eu mais amo no mundo. E não consigo acreditar que não estou freaking out por causa isso.
     É estranho estar de volta. Sinto como se estivesse entrando numa nuvem cinza onde tudo é complicado, onde cada decisão que eu tomo envolve milhares de fatores. Estou voltando à rede de relacionamentos onde certos comportamentos são esperados e tudo tem algum tipo de consequência. Estou voltando a minha vida, que tem todas as complicações que eu construí nos últimos 18 anos. Estou voltando a ser a Marina-filha-da-Márcia-e-do-Marcelo-irmã-do-Marcelo-amiga-da-Natalie-e-da-Stephanie-e-do-Jonatan-e-da-Gi-e-da-Nina-e-do-Dan-e-da-Bruna-e-da-Nacraudia-e-da-Thata-e-da-Bih-e-da-Natalê-e-do-Dennis-e-da-Má-Scocca-e-da-Glaucia-e-da-Ana-Bueno-prima-da-Camila-e-do-Alexandre-e-do-André-e-do-Bruno-e-do-César-neta-da-Maria-Eugênia-ex-aluna-do-Santa-Maria-que-fazia-teatro-no-Macunaíma-com-a-Ana-Claudia-e-mora-no-meio-do-nada, no lugar de ser só a Marina. A Marina que pode fazer o que ela realmente QUER porque ninguém espera nada dela.
     Mas ao mesmo tempo, estou com aquela sensação de quando a gente volta de uma viagem com amigos (tipo acampamento ou Porto), a sensação de “Tá, foi tudo muito legal. Mas agora eu quero a minha cama e a comida da minha mãe”. A sensação de conforto, de estar voltando para o lugar onde você fica mais à vontade e segura no mundo, onde as pessoas com quem você convive te amam, se importam com você e te dão carinho. Onde você tem a quem recorrer.
     E é nessas pessoas que eu amo e que me amam que eu vim pensando quando estava se aproximando a chegada em São Paulo: penso nelas se arrumando e saindo de casa, contando os segundos para me ver saindo do portão de desembarque. E, por mais serena que eu esteja agora, eu tenho CERTEZA que vou chorar ao vê-las porque vou lembrar o quão maravilhosa é a minha vida ao lado delas.
     Beijos de uma menina que vai sentir falta de escrever aqui
     .

PS: Tá. Agora deu frio na barriga e meu coração começou a bater incrivelmente rápido de repente.

P. Sherman, fenda espaço-temporal, Wallaby Way

     Tsamina mina e e! Waka waka e e! Tsamina mina sangaleua! It's time for Africa! Cá estou, meus caros, dentro do avião em Joanesburgo. Meu primeiro vôo foi bom. Durou 13h30. Dormi umas 3h e me mantive entretida nas outras 10h :) Sentei na janela, o que é muito mais legal para ver a vista (ver a vista, subir pra baixo e descer pra cima) e é bem melhor para dormir porque tem a parede para apoiar o travesseiro, né?
     Fiquei menos de duas horas no aeroporto da África do Sul, só deu tempo de olhar o freeshop por cima e ligar para os meus pais. Meu relógio biológico está uma zona! Pra mim são 2h da manhã, mas aqui são 18h! Nesse vôo também peguei janela, mas diferente do outro em que eu estava sentada do lado de um africano super bonzinho, eu estou do lado de um brasileiro velho e emburrado ¬¬ Quero só ver quando eu quiser ir no banheiro.
     Anyway, espero conseguir dormir porque já deu pra ver que o entretenimento de bordo desse avião é um lixo. Não tem nem televisões individuais. Só uma pequenininha lá na frente, que eu nem consigo enxergar por causa do cara que está sentado na minha frente.
Continuo incrivelmente serena, mas agora sorrio involuntariamente quando penso em quens estou prestes a rever.
     Beijos de uma menina quem tem mais 10h de vôo pela frente
     L

P. Sherman, 1107, Wallaby Way

     Acordei às 4h50, guardei o pijama na mala, tomei café da manhã e levei as malas lá pra baixo. SOZINHA, DESCENDO TRÊS LANCES DE ESCADA COM MALAS DE MAIS DE 25KG. Tudo para a construção do caráter. Quando faltavam 5 minutos para o taxi chegar, fui no quarto deles porque eles pediram para eu acordá-los para dar tchau. Eles me desejaram boa viagem e tudo mais e nós tiramos uma foto tosca de OI ACABEI DE ACORDAR porque percebemos que não tínhamos nenhuma foto juntos. Mas, eles pediram para eu não por no facebook – o que é totalmente compreensível.
     Peguei o taxi e vim para o aeroporto. Cheguei aqui às 5h50, sendo que meu vôo era só às 10h, porque minha mãe ficou me apavorando com as histórias de overbooking (quando a companhia vende mais acentos do que tem disponíveis e as pessoas que chegam por último ficam para fora). Tentei fazer check-in, mas a moça falou que só começava três horas antes do vôo. Fiquei fazendo hora até às 7h, tentando usar a internet - sem muito sucesso porque o wi-fi estava mó ruim.
     Quando finalmente fui fazer o check-in, pesei minhas malas e a mulher (que tinha uma voz terrível super fina e a língua presa) me virou e falou “You can only have 20kg in each bag. The 32kg policy is no longer in currency” HÁ. HÁ. HÁ. ZOOU NÉ? Fiquei com cara de “Como assim, moça? Que que eu faço agora?” e acho que ela ficou com dó de mim. Foi falar com alguém lá dentro do escritório e voltou falando “Ok, I'll let you have 32kg” FO-FA.
     Mas é claro que o problema ainda não podia estar resolvido. Pesei a minha mala de mão, que só podia ter 7kg, e tinha CATORZE (eu não tinha pesado a mala de mão em casa. ESTÚPIDA). Sendo assim, eu fui ali para o canto, abri as malas e comecei a passar as coisas de uma pra outro que nem uma louca, sentando e pisando na mala no meio do aeroporto pra tentar fazer ela fechar. Consegui reduzir a 9.4kg e uma bolsa (mulheres têm direito a uma bolsa e eles não pesam) lotada até o talo de bugiganga. FOFA, novamente, ela falou “Ok, 9.4kg is allright. Pretend I didn't see it.”
     Uma vez checkada, eu fui para o observation deck e fiquei um tempo lá olhando os aviões decolarem com a silhueta dos prédios da city e da Sydney Tower no fundo. Saindo de lá, fui para o portão de embarque. Passei pela polícia federal, pelo raio-x (nada foi confiscado dessa vez), pelo free shop e agora estou aqui no portão de embarque dando notícias pelo facebook pelo meu celular, enquanto espero o embarque começar. Estou incrivelmente serena. Não estou freaking out porque estou indo embora, nem super empolgada porque vou rever todo mundo. COMEÇOU O EMBARQUE! TENHO QUE IR! É, minha gente, agora não tem mais volta... Aliás, eu ainda posso dar um rolê pela África do Sul!
     Acabei de ler o carimbo DEPARTED AUSTRALIA JULY 11 (ao lado do ARRIVED AUSTRALIA JANUARY 14) no meu passaporte. Meus olhos se encheram de lágrima e eu fiquei com um nó na garganta quando a mulher escaneou meu cartão de embarque.
     Beijos de uma menina que vai ter um dia de 36 horas
     A

P. Sherman, 1007, Wallaby Way

     Meu último dia em Sydney foi bem menos dramático do que eu imaginei que seria. Acordei e fiquei um tempo enrolando no sofá, terminei de assistir o filme de ontem, agendei o taxi para amanhã de manhã e depois levantei para comer. A Bruma saiu pra trabalhar e eu fiz café da manhã para mim e para o Paulão – que estava na cama com o pé pra cima sem poder andar. Comi torradas com geleia e recebi uma mensagem da Natalie falando que estava comprando os ingressos para a estreia do Harry Potter. Entrei no msn para resolver tudo com ela e fiquei reorganizando minhas malas – que eu tinha deixado na casa do Paulão quando fui viajar, lembra? - enquanto discutíamos a sessão, o shopping, os jeitos de pagar meia agora que eu não tenho mais carteirinha e tudo mais.
     Consegui, milagrosamente, enfiar tudo nas malas e deixá-las com menos de 32kg. Aliás, quando fui pesá-las, me pesei também e MEU. DEUS. O estrago foi muito maior do que eu imaginava. Eu engordei MUITO. E juro que não é exagero de menina. Preparem-se para me ver rolando. Assim que eu chegar, vou tomar SÉRIAS PROVIDÊNCIAS A RESPEITO. Só não começo hoje porque tenho um jantar marcado numa churrascaria rodízio.
     Terminado o empacotamento, eu me dirigi ao meu amado e idolatrado Opera House para passar minhas últimas horas ociosas diante dele. Li todas as frases a respeito dele, que estão numa parede de exposição ali na frente (e descobri que não sou a única obcecada pelo lugar), conversei com um israelense super simpático, contei que era meu último dia em Sydney, ele ficou de coração partido e fez questão de tirar minha última foto com o OH e foi embora dizendo “It was an honour to be one of the last people you met in Sydney”. Fui até o Botanic Garden tirar foto do Opera House com a ponte atrás, sentei nas pedras que tem na frente, andei ao redor dele todo, passando a mão nos azulejos (e beijei um deles, depois de sussurar “Bye, thanks for everything”) e fiquei sentada na frente do Opera Bar adimirando o Opera House, quando já estava escuro e as luzes estavam acesas. Para a minha surpresa, eu não chorei. Fiquei emocionada enquanto estava lendo as frases, porque algumas delas definiam muito bem o que eu sinto, mas foi só.
     Quando deu umas 18h, a Bruma me ligou e a gente foi se encontrar no Hyde Park para o meu “jantar de despedida” - que, na verdade, virou só um jantar entre amigas porque todo mundo miou – no Churrasco. Foi bem gostoso. Comi bem, mas não porcamente a ponto de querer vomitar que nem da outra vez. Eu e a Bruma ficamos conversando sobre o casamento dela, os possíveis filhos e ela me mostrou as fotos do vestido... Que linda! E foi legal rever todo mundo, dar tchau pro pessoal. São todos muito queridos! A Luana, que linda, cobrou preço de funcionário de mim e deixou a gente levar uma marmitinha pro Paulão! A Paty ficou me fazendo mil perguntas sobre a viagem. Todo mundo me desejou bom retorno... Muito gracinhas! Ai, ai... vou sentir falta desse pessoal, viu?
     Eu e a Bruma viemos para casa, eu tomei banho, fiquei no pc um pouco e agora... Agora vou dormir. É, minha gente. Acabou. Amanhã é acordar e ir para o aeroporto.
     Beijos de uma menina que passOU seis meses na Austrália
     N

P. Sherman, 0907, Wallaby Way

     Acordei com uma mensagem do Paulão dizendo que tinha passado a noite toda no hospital porque torceu o pé e não ia poder mais me buscar no aeroporto. GREAT (Y). Não fiquei nem um pouco brava com ele, ÓBVIO. Mas foi tipo PORRA, MAIS UMA DESPESA COM TRANSPORTE. Desci para tomar café da manhã, fechei minhas malas e fui com as canadenses para uma feirinha que tinha perto do hotel. Nada demais, cheia de coisas de feirinha. O mais legal que eu vi foram umas máscaras de teatro coloridas que eram muito bonitas! Total Romeu e Julieta! Fiquei brigando comigo mesma para não comprar nenhuma porque a mais barata custava AU$35,00.
Eu: SÓ O ESSENCIAL, MARINA. SÓ O ESSENCIAL.
Mente: Mas como você tem a pachorra de dizer que uma máscara de Romeu e Julieta não é essencial?
Eu: Você ia fazer o que com ela? Pendurar na parede do seu quarto de enfeite?
Mente: Não, eu ia usar!
Eu: EM QUAL situação?? Pra ir pro cursinho??
Mente: Não, ia usar num... baile de máscaras!
Eu: Olha, se fosse mais barata e você não fosse gastar AU$50,00 para ir pro aeroporto que até deixava você comprar. Mas hoje não vai dar.
(Qualquer semelhança do trecho acima com o capítulo 42 de Eat Pray Love é pura coincidência)
     Essa conversa interna me faz lembrar da decoração do meu quarto e... MANO, eu tenho um pôster do Zac Efron na parede! Ainda acho ele lindo, mas náá. O quarto não tem mais minha cara. Minha cara mudou. Mudanças serão necessárias.
     Me despedi das canadenses e fui para o hotel dar checkout e pegar minha malas. Andei até o ponto e peguei o ônibus – cujo motorista usava um boné do Bob Esponja, gostaria de constatar - para o porto. De lá, peguei uma ferry para a ilha onde ficava o aeroporto. ALGUÉM ME DIZ POR QUE O AEROPORTO FICA NUMA ILHA?? Chegando lá, fui fazer check-in e a mulher me vira e pede para PESAR MINHA MALA. 10,4kg. O máximo para mala de mão é 7kg. “You'll have to check it in. And this will cost you AU$40,00” PUTA. MERDA. Que raiva! Mó frescura dessa mulher! Nenhuma outra companhia pesou! Estava pesada, mas cabia tranquilamente no compartimento. MALDITA ¬¬ Pelo menos ela não pesou a outra, me deixando levar como mala de mão mesmo tendo certeza que tinha mais de 7kg também.
     Anyway, BACK TO SYDNEY! Home sweet home... Tecnicamente, eu nem tenho mais casa aqui. Mas me senti muito confortável de estar de volta à cidade do Opera House, na qual eu sei onde ficam as coisas, pela qual eu sei andar, a cidade eu mais amo no mundo (Perdeu, Paris).
     Anyway, descobri qual ônibus tinha que pegar (amo o fato de agora ser capaz de simplesmente “descobrir quando chegar lá”, sem ficar neurótica e desesperada achando que vou dormir na rua) e fui para casa do Paulão. Ele e a Bruma foram super fofos e atenciosos comigo! Mostrei as fotos da viagem pra eles e depois fui com a Bru no supermercado (onde comprei TimTam, Boost e vegemite para levar pro Brasil pros meus pais e o Marcelo fazerem uma degustação das especialidades australianas :D) e a gente fez strogonoff pro jantar.
     Depois de ajudar o Paulão a ir pro quarto pulando num pé só tadinho, a Bruma pegou edredons e travesseiros pra mim e eu estou aqui no sofá da sala – que é uma delícia – quentinha e pronta para dormir. Fiquei um tempo no computador e estava assistindo um filme (comédia romântica bobinha) até agora, mas como não estava tão interessante e eu estou com sono, vou dormir.
     Beijos de uma menina que só tem mais um dia em Sydney D:
     I

P. Sherman, 0807, Wallaby Way

     Acordei, me arrumei e fomos todos para o café da manhã. O sombra sentou do meu lado, terminou de comer antes de mim e ficou me esperando terminar para ir pro quarto. POR QUÊÊÊ, MENINOOOO???!!! Respirei fundo e, inspirada pela passagem de um livro que eu folheei na livraria outro dia dizendo “Be nice to boys. A little bit of attention can content stalkers”, resolvi ser legal com o coitado. Conversei com ele normalmente – tão normal quanto uma conversa com ele pode ser – no caminho para o quarto, onde pegamos nossas malas, para darmos checkout no hotel e irmos para o barco.
     Finalmente o garoto desgrudou e eu consegui conversar com um italiano e uma sueca legais :) Adoro conhecer gente do mundo todo, mas confesso que estou meio cansada de fazer social. De vez em quando eu penso “Ahh chega de conhecer pessoas novas e ter que ser legal! Cadê as pessoas que me conhecem?”
     A última parada do tour – e única parada de hoje – foi numa barreira de corais onde a gente fez um pouco mais de snorkel. A água estava ESTALANDO DE GELADA, mas pelo menos tinha peixes dessa vez e eles nadaram bem pertinho de mim :) Eu quase MUITO QUASE não fui. Estava pensando “Já fiz snorkel 3 vezes na última semana, precisa de mais?” mas aí pensei “Aproveite. Tudo. Essa é sua última semana na Austrália. Se você não fizer isso vai se arrepender profundamente. Além disso, essa pode ser a última vez que você vai mergulhar no Oceano Pacífico.” Fiz bem.
     Chegamos na Marina, onde o guia bonitão chamou todo mundo para ir no bar do meu hotel hoje às 19h e depois cada um foi pro seu canto e mal se despediu. Antes de ir para o hotel, eu fui para a lagoon e lá fiquei torrando no sol e lendo Eat Pray Love até cansar. Depois, fui para o backpackers e qual não foi minha surpresa quando eu olhei pela janela do quarto onde a alemã-de-dois-piercings estava com as minhas malas e ELA NÃO ESTAVA LÁ. Fucking fuck! Tá vendo, Marina! Quem mandou confiar em estranhos?! Agora a menina roubou suas coisas! Seu netbook está lá dentroooo!! E o vestido verde! E a sapatilha preta! E a blusa roxa! “Hi, receptionist, do you know if this german girl Erika changed rooms in the past three days?” “Yes, she's in room 31” Fui no room 31 e não tinha ninguém. AAAIII MEU JESUS CRISTOOO. Mandei uma mensagem pra ela e fiquei esperando pra ver se ela ia responder ou ia simplesmente afanar minhas malas.
     Fui passear um pouco pela cidade, comprei cartões postais, comi sorvete do McDonalds, fui numa lanhouse onde conversei com o Jonatan e sofri uma overdose de sentimentos que quase explodiu minha cabeça num conflito interno de EBAAA ESTOU VOLTANDO x NÃO QUERO VOTLAAAR!! e recebi uma mensagem da Erika toda fofa falando “Hi, sweetie. I'm back from work. You can come pick up your bags. I'm in room 31” Fui pro room 31 e lá estava ela toda fofa me esperando com as malas. Eu sorri e agradeci como se nunca tivesse desconfiado da honestidade dela.
     Sem conseguir pregar a bunda em lugar nenhum, numa ansiedade enorme porque O TEMPO ESTÁ ACABANDO TENHO QUE APROVEITAR TENHO QUE APROVEITAR TENHO QUE APROVEITAR, eu fui para a lagoon de novo, ficar olhando para coisas bonitas e tentando absorver a belexa delas. Até que deu frio e eu voltei para o hotel, onde encontrei minhas novas roomates legais: Sophie (inglesa), Stef e Kate (canadeses). Ficamos um tempo conversando e elas me contaram que viram tartarugas e baleias no tour delas. Não vou nem me dar ao trabalho de apertar o caps lock e começar a xingar minha falta de sorte.
     Quando deu umas 19h, as três desceram para o bar, onde elas iam se encontrar com o pessoal do tour delas – e, casualmente, o pessoal do meu tour – para “have a drink”. Não estava nem um pouco de ir “have a drink” com semi-conhecidos, mas também não queria ficar em casa. Não tem uma opção diferente tipo ficar sentada na praia conversando com a Bruna e a Natalie?
     A fome bateu e eu desci pra comer. Comi o resto do meu macarrão sem molho com o feijão que eu comprei hoje a tarde. É. MACARRÃO COM FEIJÃO. Eu sei. Mas, em minha defesa, o feijão daqui é diferente! Não tem gosto de feijão e vem com molho de presunto. Juro que ficou bom!
     Voltei para o quarto para ficar lá fazendo nada e, quando entraram no quarto dois novos roomates totalmente bêbados (que happened to be a guia do tour e o barman da ilha) falando que iam descer para a balada, eu agradeci imensamente por não estar lá embaixo e lembrei mais uma vez do livro que eu folheei na livraria, que dizia Never be the Drunk Chick. Essa menina devia ter lido esse livro porque a cena foi deplorável. Quando eles foram embora, minha barriga doeu e eu fui no banheiro umas três vezes em uma hora, eu agradeci abissalmente por não estar lá embaixo.
     Fiquei aqui na minha lendo até dar sono e eu conseguir adormecer apesar da barulheira lá debaixo. Umas duas horas depois, eu acordei ao som de Panamericano e me senti quase culpada por não estar dançando. Comecei a me mexer na cama, até que decidi ficar de pé e fiquei lá dançando sozinha no meio do quarto. Depois dessa, vieram todas as músicas-de-Austrália e eu quis muito que a Lê estivesse lá para dançar comigo (Tocaram todas, Lêêê!! Hello, Uuuu, Shuffle, Dynamite!!!).
     Quando voltei para a cama e estava quase caindo no sono de novo, o barman chegou no quarto muito mais bêbado do que antes e logo atrás dele, veio um segurança dizendo que ele tinha que sair porque esse era um “Girls Only Dorm”. Bebadamente, ele repetiu umas 8591347 vezes “But they gave me the key to this room when I checked in” até que desistiu e foi para o outro quarto.
     Se tudo der certo, eu vou dormir agora.
     Beijos de uma menina que vai voltar pra sua amada Sydney amanhã
     F

P. Sherman, 0707, Wallaby Way

     Acordei com o despertador do sueco, que tocou antes do meu, me arrumei e nós (os 5 do meu quarto) fomos para o café da manhã. Comemos e fomos pro barco para velejar pelas ilhas de Whitsundays *__* E NÃO É QUE O MENINO GRUDOU EM MIM MEEESMO? O cara ficou sentado do meu lado um tempão e ficava me olhando com uma cara estranha meio de maníaco e, quando ele sorria, me lembrava a cara que o Pedro faz quando fala “tapinha na cocaína”. E toda vez que ele fala alguma coisa eu tenho que pedir pra ele repetir porque NÃO DÁ PRA ENTENDEEER, PORRAAA FALA DIREITOOOO!! Foi quando eu comecei a contar os dedos do pé dele para ver se ele tinha 5 mesmo que eu percebi que estava procurando defeito onde não tinha.
     No caminho para a praia de Whitehaven, a gente viu golfinhoooos!!!! Eu nunca tinha visto golfinhos na vidaaaa!!! Eles estavam nadando e dando uns pulos de vez em quando, igual nos desenhos! *___* Chegando na praia, cuja areia é a mais fina do mundo, os indianosfromuk me enterraram na areia deixando só a cabeça para fora! =D (Mais um CHECK na minha lista de coisas para fazer antes de morrer!) Foi divertido. He. As fotos estão na máquina de uma das meninas, não na minha. Porque na posição que eu estava – coberta de areia sem poder me mexer – não dava para dar o truque que faz minha máquina ligar. Nessa mesma praia, eu vi um dragão de comodo (um lagarto grandão) andando no mato e foi legal =D
     Voltamos para o barco e eu fiquei dormindo no sol... Até que chegamos num ponto de snorkel. Pulamos na água QUE ESTAVA GELADA PRA <3 e enfiamos a cara na água para procurar o Nemo. FOI MÓ MIADO. A máscara ficava embaçando o tempo todo, quase não tinha peixe e os corais não tinham cores incríveis. A única coisa legal que eu vi foi uma água-viva mas fiquei com medo e nadei para longe.
     Voltamos para o barco e, lá estava eu vendo o sol se por atrás das ilhas, deixando no céu um degradê de cores maravilhoso, com o mar cor-de-piscina diante de mim, quando um dos indianosfromuk falou, atônito, “This is real life.” Os amigos dele deram risada e zoaram ele, mas eu achei genial. CARA. THIS. IS. REAL. LIFE. Essa imagem linda, maravilhosa! Não acredito que eu estou aqui! O mundo é tão lindo que dói!! É ão lindo que eu quero ENGOLIR ele! Quero... quero... quero... Sei lá! Quero alguma coisa, quero conseguir absorver toda essa beleza! Mas como? E mais uma vez, me volto para a escrita e as fotos. Às vezes eu sinto que meu diário é uma forma de organizar meus pensamentos, de explicar pro mundo o que eu penso sobre ele. Não sei se vou conseguir mesmo abandoná-lo.
     De volta ao hotel, tomei banho e fui para o jantar, onde me deparei com um escocês de saia. “Fair enough” disse a inglesa depois de trocarmos olhares risonhos. Os jogos de hoje foram: 1) Virar um copo de cerveja sem usar as mãos. 2) Colocar uma moeda na bunda e sem tocar, fazê-la cair dentro de uma jarra de cerveja que estava no chão. 3) Sex Positions. OLHA O NAIPE DO JOGO! Era assim: o guia bonitão gritava o nome de uma posição e você e seu parceiro tinham que fazê-la. Vergonha de olhar pra cara do búlgaro-semi-conhecido depois, hum? Levemos na esportiva, É TUDO BRINCADEIRA :) By the way, as duplas de homem com homem eram as melhores.
     Para finalizar a noite, rolou um karaokê mas não quis cantar sozinha. Fiquei só vendo os outros cantarem e sentindo vergonha alheia da mulher que mulher destruiu completamente Total Eclipse of The Heart (NÃO É ASSIM QUE FAAAZ, MOÇAAAA!!) e do sueco, que cantou duas vezes com sua voz fanha e desafinada. Quando cansei e resolvi ir pro quarto dormir, o carrapato veio junto e tentou puxar assunto com “Can you believe this is already the last night?” HÃÃà THE LAST OUT OF... TWO? ¬¬
     Beijos de uma menina que tem seu próprio stalker